sábado, 10 de fevereiro de 2018

Eric Gales continua com tudo



Nas "andanças" pelo Spotfy e pelas listas de melhores artistas do ano, constatei que Eric Gales continua sendo um nome relevante na história do Blues recente.

Seu último e excelente disco, Middle of the Road (2017), não me deixa mentir: além de estar presente em diversas listas de "melhores do ano", o disco ainda consegue expressar a capacidade de Eric Gales em atender a pesadíssima responsabilidade de ser um dos maiores porta-vozes e representantes do Blues de Memphis atualmente.

Família


Nascido em um ambiente musical, Eric Gales, desde os 13 anos, já tocava com seus irmãos, Manuel Gales (ou Little Jimmy King), Daniel Gales e Eugene Gales - quando eram conhecidos como Gales Brothers.

Para as influências secundárias de Eric Gales podemos citar Jimmy Hendrix, Cream, Stevie Ray Vaughan, Albert King, Led Zeppelin e Z.Z. Top. Um saudável mix de Rock e Blues.

Essa primazia familiar constuiu uma característica bem própria do guitarrista, sendo elogiado por gente do nível de Carlos Santana, Joe Bonamassa, Mick Jagger, Keith Richards, B.B. King e Eric Clapton. Eric não toca apenas o Blues de Memphis, mas o Blues dos "Gales". E é isso que o torna um músico tão único e notável.

O que ouvir pra começar


Recentemente, fiz uma playlist com todos os discos de Eric Gales disponíveis no Spotfy, desde o primeiro, The Eric Gales Band de 1991, até o supracitado Middle of the Road de 2017.

Segue a playlist:



É difícil elencar os melhores discos, já que todos, além de ter uma qualidade altíssima e são igualmente muito bons, mas queria destacar o primeiro disco de 1991, Crystal Vision de 2006, The Story of My Life de 2008, Pinnick Gales Pridgen de 2013, Good for Sumthin' de 2014 e, o meu preferido de todos, a Night on the Sunset Strip  de 2016, sem dúvidas um dos melhores discos ao vivo de Blues dos últimos anos.



sábado, 29 de abril de 2017

Relato de campo: o dueto Street Blues de São Paulo



Dois integrantes. Apenas dois é o suficiente para apresentar um Blues consistente.

Street Blues é um dueto formado pelo guitarrista e vocalista Rodrigo Battello e o gaitista e baterista Leandro "Street Blues" (que toca os dois instrumentos ao mesmo tempo).

O dueto se apresentou hoje, dia 29/04/2017, no SESC Campinas e apresentou clássicos do Blues, Ragtime e Country com músicas de John Lee Hooker, Johnny Cash e Muddy Waters - quase uma homenagem à música popular norte-americana. Apesar dos equipamentos de som do SESC não ser dos melhores (a guitarra estava muito baixa) - deu pra perceber que a dupla consegue fazer um som ao mesmo tempo minimalista e encorpado.

Pra quem quiser conhecer mais da banda:

https://www.facebook.com/street.blues/
https://www.youtube.com/channel/UCoNcRpb5ERK9o657tqAUd5A


Contato para shows: (11) 2059-9020 / (11) 95052.6254
Email: leandro.streetblues@gmail.com

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Milestones (1958) - Miles Davis


Milestones é considerado um disco preparatório para o revolucionário Kind of Blue (1959) e, junto com este, tido como um disco basilar para tanto para o desenvolvimento do Jazz, quanto para sintetizar o estilo nos anos 50.
É quase imperativo que você escute um e outro em sequência, pois ambos formam um par. A música Milestones (ou Miles, nas primeiras versões desse disco), desse disco, é a primeira incursão de Miles Davis nas experimentações de Jazz Modal - que seriam desenvolvidas e sacralizadas em Kind of Blue.

As comparações com Kind of Blue são inevitáveis, tanto por apresentar Miles numa mesma linha de composição - quanto por enfatizar a presença de John Coltrane no grupo.
No entanto, não ache que este disco vive a sombra de Kind of Blue. Geralmente, as pessoas que escutaram Kind of Blue primeiro e, depois, perseguem este disco, notam uma outra atmosfera ainda nesse mesmo universo. Milestones é muito mais enérgico que Kind of Blue. O disco é uma mistura de Blues, Bebop, Post-Bop e uma linha de Jazz Modal - permeada por um swing bastante agressivo.


O sexteto desse disco é composto por Miles Davis, que toca trompete e piano na música Sid's Ahead, Julian Adderley (Cannonball) que toca saxofone alto, John Coltrane, como mencionado, no saxofone tenor, Red Garland no piano, Paul Chambers no contrabaixo (nesse disco ele varia entre o pizzicato e o arco) e, finalmente, Philly Joe Jones.

Sid's Ahead e lado de Milestones são as únicas músicas compostas por Miles Davis no disco.

A primeira música é um bepop acelerado Dr. Jackle (ou Dr. Jekyll) - composição do saxofonista Jackie McLean) - evidenciando desde já a capacidade técnica de Miles Davis e seu time.
Two Bass Hit, última música do "lado A", é uma composição de John Lewis e Dizzy Gillespie).
Billy Boy é uma composição do pianista Ahmad Jamal e Straight, No Chaser é uma composição do pianista Thelonious Monk; Red Garland os homenageia com bastante desenvoltura.



sábado, 8 de abril de 2017

Brilliant Corners (1957) - Thelonious Monk



Terceiro trabalho de Thelonious Monk na Riverside Records e o primeiro, neste selo, a ter suas próprias músicas.
Considerada uma obra-prima de Monk e um dos discos mais importantes do Jazz, sendo crucial no desenvolvimento do Jazz moderno, Brilliant Corners um pouco difícil nas primeiras ouvidas, mas que se torna completamente viciante depois de um tempo.

O disco foi gravado em três sessões de 1956 com dois diferentes quintetos.

Ba-lue Bolivar Ba-lues-Are e Pannonica, que Monk toca uma celesta, foi gravada em nove de outubro com os saxofonistas Ernie Henry e Sonny Rollins, o baixista Oscar Pettiford, e o baterista Max Roach.

As outras faixas Paul Chambers estava no baixo e o trompetista Clark Terry entra no lugar do saxofonista Ernie Henry.

Se você não conhece bem Thelonious Monk, não recomendo este disco. Se acostume com o pianista pegando algumas compilações como "Genius of Modern Music" da Blue Note e The Unique Thelonious Monk - que são discos repletos de standards.

A música que abre o disco é uma das composições mais difíceis do Jazz. Para gravá-la foi necessária uma dúzia de takes e a versão final do disco foi editada com três deles.

Algumas dessas sessões duravam 4 horas. Isso causava tensão entre ele e o saxofonista Enrie Henry e o baixista Oscar Pettiford.

Se você conseguir passar dessa música excepcional, já se considere um "iniciado" em Thelonious Monk.

Caso contrário, tente as próximas faixas. Ba-lue Bolivar Ba-lues-are, segunda faixa do disco, é uma belíssima e relaxante improvisação de 13 minutos, repleta de groove.

A próxima música, a balada Pannonica, é impossível não gostar. Uma música encantadora onde Monk toca celesta.
Ela é dedicada a "Baronesa do Jazz", Kathleen Annie Pannonica de Koenigswarter. Uma mulher da família Rothschild que largou tudo para virar patrona de muitos músicos proeminentes de Jazz como Monk (o qual tinha uma verdadeira adoração), Charlie Parker, Mary Lou Williams e outros.


Aliás, Ba-lue Bolivar Ba-lues-are - o título da segunda música do disco - é uma brincadeira em cima da pronúncia exagerada de Monk ao falar Blue Bolivar Blues, referente aos gracejos que Pannonica fazia dele. Refere-se, aqui, ao hotel Bolivar, onde a baronesa do Jazz residia.

I Surrender, Dear é um standard de jazz - a única faixa desse disco que não foi composta por Monk, mas por Harry Barris - um rapaz branco de nova-iorque, da primeira safra do Jazz (sim, a primeira safra do Jazz era repleta de brancos).

Bemsha Swing é uma composição de Monk e Denzil Best que lembra as big bands. Excelente faixa.


quinta-feira, 30 de março de 2017

On the Corner (1972) - Miles Davis


Gravado em 1972, ainda seguindo a linha do Fusion que Miles Davis começou a se aventurar no final dos anos 60 em discos como Bitches Brew e Jack Johnson.
A concepção desse disco veio da tentativa de Miles Davis resgatar os jovens afro-americano que estavam abandonando o Jazz e se afeiçoando ao groove mais dançante, mais pulsante e mais sexual do Funk. Convenhamos, era impossível Miles Davis, um músico da velha guarda negra norte-americana, competir com Sly and the Family Stone e James Brown, pelo menos no paladar dos jovens.

On the Corner foi acusado de comercial por tentar se aproximar dessa nova geração. E foi mesmo um disco comercial - e também o melhor disco da história, na minha opinião.

Trata-se de um disco que é ao mesmo tempo Jazz e Funk, uma mistura dialética das duas coisas gerando uma terceira, uma síntese, que acaba não sendo uma coisa nem outra, mas algo coeso e incrivelmente interessante,

O número de músicos talentosos presente nesse disco é simplesmente insuperável. Temos Miles Davis no trompete elétrico, Dave Liebman no saxofone soprano, Carlos Garnett no saxofone soprano e no saxofone tenor, Chick Correa no piano elétrico, Herbie Hancock no piano elétrico e no sintetizador, David Creamer e John McLaughlin nas guitarras, Michael Henderson no baixo elétrico, Collin Walcot e Khail Balakrishna na cítara elétrica, Bennie Maupin no clarinete baixo, Badal Roy na tabla, Jack DeJohnette na bateria, Jabali Billy Hart na bateria e nos bongos, James "Mtume" Foreman e Don Alias na percussão, Paul Buckmaster no violoncelo e outros arranjos e Robert Honablue como engenheiro de som.

A complexidade desse disco não é apenas demonstrada na ostentação dos seus integrantes.

segunda-feira, 13 de março de 2017

Genius of Modern Music: Volume 1 & 2 - Thelonious Monk

Compilação das principais composições de Thelonious Monk em sua época na Blue Note.
Esses discos foram lançado pela primeira vez em 1951 e 1982, com poucas músicas, depois em 1956, acrescentando mais algumas, depois em 1989 e outra vez em 2001.
Tomarei aqui a versão dessa compilação feita em 1989 (não se preocupem, a de 2001 é a mesma de 1989, apenas com a ordem das faixas trocadas).



Disco 1

As seis primeiras faixas do disco são executadas por Quebec West (saxofone alto), Idress Sulieman (trompete), Thelonious Monk (piano), Art Blakey (bateria) e Gene Ramey (baixo): Humpf, Evonce, Evonce (take alternativo), Suburban Eyes, Suburban Eyes  (take alternativo) e Thelonious.
Com exceção da última música, que é praticamente Monk executando uma performance solo enquanto os outros músicos apenas o acompanham, todas as outras combinam tanto performances de piano quanto combinações e duelos entre instrumentos de sopro (Quebec e Idress), acompanhados pela cozinha Blakey-Ramey. O grande destaque dessa primeira parte do disco é, sem dúvida, Humpf, a música de abertura do disco.

As 10 faixas seguintes, Nice Work if You Get, Nice Work if You Get (take alternativo), Ruby My Dear, Ruby My Dear (take alternativo), Well You Don't Needn't, Well You Don't Needn't (take alternativo), April in Paris, April in Paris (take alternativo), Off Minor e Introspection são executadas apenas por Monk e acompanhada pela bateria de Blakey.

Enquanto nas primeiras faixas vemos Monk apenas como mais uma peça das músicas executadas, aqui ele é o condutor principal de tudo.

A última parte do disco são executadas por Blakey, Monk, George Taitt (trompete), Sahid Shinab (saxofone alto) e Bob Paige (baixo). Começamos ouvir aqui algumas das peças mais bonitas compostas por Monk: In Walked Bud, a lindíssima Monk's Mood, a histórica 'Round Midnight e duas versões de Who Knows.



Disco 2

Enquanto o primeiro disco era um compilado de músicas de Monk que foram executadas com uma configuração instrumental composta basicamente de bateria, piano, baixo, trompete e saxofone alto - neste disco é o inserido vibrafone, na primeira parte do disco, e sax tenor na segunda parte do disco.

As noves primeiras faixas desse segundo disco, Four in One, Four in One (take alternativo), Criss Cross, Criss Cross (take alternativo), Eronel, Straight No Chaser, Ask Me Now, Ask Me Now (take alternativo) e Willow Weep For Me, temos Blakey (bateria), Monk (piano), Sahib Shihab (saxofone alto), Al MicKibbon (baixo) e Milt Jackson (vibrafone).

As faixas seguintes, Skippy, Skippy (take alternativo), Hornin'In, Hornin'In (take alternativo), Sixteen (primeiro take), Sixteen (segundo take), Carolina Moon, Let's Cool One e I'll Follow You são executadas por Max Roach na bateria, Nelson Boyd no baixo, Lucky Thompson no sax tenor, Lou Donaldson no sax alto, Kenny Dorham no trompete e Monk no piano.

No primeiro disco as músicas são mais conhecidas e icônicas, no segundo disco, as partes mais interessantes são aquelas que combinam combinam sax, piano e vibrafone.

Da sétima a décima sexta faixa do primeiro disco temos Monk em seu estado puro (acompanhado por Blakey), em todo o resto, temos a noção da sua capacidade de se colocar como instrumentista integrante de grupos com diversas configurações instrumentais.

O erro deste compilado, que é pra mim um erro dos compilados de Jazz em geral, é o exagero de faixas alternativas ao longo da execução, que acabam sobrecarregando os discos desnecessariamente com músicas que variam muito pouco. Mas esse é um problema muito simples de resolver, apenas pulando as faixas "repetidas".

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Koko Taylor (1969) - Koko Taylor


Este disco é uma reedição de seu segundo álbum de estréia em 1969, lançado pela MCA/Cheers e produzido por ninguém menos que Willie Dixon, entitulado apenas "Koko Taylor" (o primeiro chama-se "Love You Like a Woman", lançado em 1968 pela Charly Records).

Ele conta com músicas gravadas ao longo de 4 anos de sua carreira (que já existia bem antes disso), de 1965 a 1969 (data do lançamento) - incluindo todo disco anterior (tornando-o dispensável pra quem quer conhecer sua carreira - sendo apenas peça de colecionador).

O disco conta com outros grandes nomes do Blues de Chicago como Sunnyland Slim, Buddy Guy, Johnny Shines, Walter Horton e, óbvio, o mestre Willie Dixon - fazendo ele mesmo as linhas de baixo e cantando em duetos excelentes com Koko Taylor (especialmente na a música "Insane Asylum").

Koko Taylor é uma cantora de extrema personalidade, talvez a "voz rasgada" mais marcante do estilo. Embora ela exagere um pouco no começo da carreira, se tornando previsível e um pouco repetitiva nas performances vocais, coisa que ela aprimora bastante ao longo da sua carreira.

Escute o disco abaixo: