sábado, 6 de junho de 2015

Coletânea Miles Davis (Blue Note) - Modern Jazz Series

Para quem quer conhecer a obra de Miles Davis mais profundamente e não sabe por onde começar eu recomendo a coletânea feita pela gravadora Blue Note saída em três volumes.
Trata-se das primeiras gravações de Miles Davis entre os anos 1952 e 1954. Gravações fundamentais para o Hard Bop, que iria influenciar (e muito) a moderna música mainstream da década de 1960.
As gravações compreendem um apanhado geral da sua carreira, nessa época, em músicas variadas, das mais lentas e relaxadas as mais aceleradas e dançantes (algumas músicas até com takes alternativos).
A importância de compilações como essa é histórica, como disse o crítico de música Scott Yannon. Todo esse período inicial de Miles Davis tende a ser esquecido, tanto por causa de seu estilo de vida errático quanto por ser o período que antecedeu seu primeiro quinteto clássico.


Vol.1

As músicas do disco seguem uma sequência cronológica.

Músicas gravadas em 9 de Maio de 1952:
Sexteto: Miles Davis (trompete), J. J. Johnson (trombone), Jackie McLean (sax alto), Gil Coggins (piano), Oscar Pettiford (baixo) e Kenny Clarke (bateria).

O disco abre com Dear Old Stockholm. Trata-se de um dos temas mais interessantes já gravados por Miles, suave e memorável. A segunda faixa é Chance It, do baixista Oscar Pettiford. Uma música mais acelerada, com performances individuais e solos bem interessantes. A terceira faixa é Donna (ou Dig), de Jackie McLean (ou de Miles Davis, há uma discussão), uma Jazz Standard, onde vemos novamente o time de sopros fazer suas ótimas performances individuais em torno do tema principal da música. A quarta faixa é Woody 'n' You de Dizzy Gillespie, outra Jazz Standard com, novamente, ótimas partes de sopro e um belo solo de baixo de Oscar Pettiford. A quinta faixa é Yesterdays, uma música mais lenta e melancólica. É uma das minhas preferidas do disco, foi composta por Jerome Kern e Otto Harbach em 1933, um exemplo de música americana de altíssimo nível.
Para quem gosta de musicas mais lentas eu recomendo uma outra coletânea, Ballads and Blues.
How Deep is the Ocean? é a sexta faixa do disco. Assim como a Yesterdays, uma belíssima balada e também uma das minhas preferidas do disco. A música é de Irving Berlin.

As três faixas seguintes são versões alternativas de Chance It, Donna e Woody 'n' You.

Músicas gravadas em 6 de Março de 1954:
Depois das três versões alternativas das Jazz Standards de Maio de 1952. O disco segue com canções gravadas 2 anos depois. O sexteto agora tem a seguinte formação: Miles Davis (trompete), J. J. Johnson (trombone), Jimmy Heath (sax tenor), Gil Coggins (piano), Percy Heath (baixo) e Art Blakey (bateria).

Sendo assim, a décima faixa é Take Off, de Miles Davis. Uma música mais acelerada, como Chance It, com uma interessante base de piano. A décima primeira faixa é Lazy Suzan, também de Miles Davis; há uma ótima execução de piano de Gil Coggins e uma excelente levada de Blakey na bateria.
A décima segunda faixa é The Leap, de Miles Davis; também com um andamento acelerado, uma das mais impressionantes performances individuais de trompete de Miles. A décima terceira faixa é Well, You Needn't, de Thelonious Monk; a música tem um fraseado de piano maravilhoso, um dos grandes destaques do disco. Voltando as composições de Miles Davis, a décima quarta faixa é a excelente Weirdo. A última música é It Never Entered My Mind; ima belíssima balada de Richard Rodgers e Lorenz Hart.


Vol.2

Consideraremos aqui a ordem feita por Rudy Van Gelder que lançou o CD remasterizado em 2001. A segunda parte dessa essencial coletânea contem gravações de 20 de Abril de 1953 da Blue Note. Assim como no Volume 1 este apresenta as músicas na ordem em que foram gravadas.

Esse ano de 1953 foi especial na carreira de Miles Davis, fazer uma coletânea com músicas gravadas apenas em 1 ano nos mostra um pouco a dimensão desse vulcão criativo que ele (e seu time) era.
Temos a união de grandes compositores (J.J. Johnson, Ray Brown, Bud Powell, Jimmy Heath, Walter Fuller, e Dizzy Gillespie, que assinam as músicas tocadas ao longo do disco) com uma memorável sessão rítimica (com o baterista Art Blakey, o baixista Percy Heath e o obscuro pianista Gil Goggins). A linha de frente é muito bem representada por Miles Davis no trompete, o trombonista J.J. Johnson e Jimmy Heath no sax tenor. Esse time dá a cada melodia o peso e a textura de uma Big Band.
Podemos dizer que esse disco resume o Jazz. A união entre Miles e Blakey gerou músicas com influências de rítimos afro-cubanos, o blues norte-americano, o fraseado bop ou seja "is what jazz is all 'fucking' about".

As duas primeiras músicas, Kelo e Enigima, são músicas do trombonista J.J. Johnson e procedem da tradição orquestral de Birth of the Cool, que vai combinar o contraste do trombone aveludado de J.J. com o polido, entrecortado, estridente e choroso trompete de Miles Davis. Temos em seguida Ray's Idea de Gil Fuller e Ray Brown acompanhada de Tempus Fugit de Bud Powell e C.T.A., uma composição do sax tenor Jimmy Heath. Ray's Idea e C.T.A. são músicas mais swingadas e Tempus Fugit é um clássico inquestionável, seus solos e arranjos foram definidos como "transcendentais" pelo crítico da Allmusic Rovi Staff. Em seguida temos I Waited for You, uma das baladas mais charmosas de Miles Davis.
As faixas seguintes são versões alternativas de Kelo, Enigma, Ray's Idea, Tempus Fugit e C.T.A.


Considerações sobre o "Vol.3"

Essa coletânea quando saiu para LP tinha 3 volumes, mas se você tem o volume 1 em CD o volume 3 está todo contido nele. O LP de 10'' original foi descontinuado.
As faixas são Lady Suzan, The Leap, Weirdo, Well You Needn't e It Never Entered My Mind, ou seja, as músicas gravas em 1954.

Resumindo:
Apesar da ordem confusa ordem do CD, com o primeiro volume com músicas de 1952 e 1954 (incluindo músicas do volume 3, que foi descontinuado) e o segundo volume apenas com músicas de 1953 o que vale é a experiência da audição.