sábado, 6 de dezembro de 2014

Nina Simone - I Put a Spell on You


I Put a Spell on You (clique aqui para comprar o disco) é um disco da pianista/cantora de Jazz/compositora Nina Simone lançado em 1965 pela Philips Records. É, certamente, um dos melhores discos dela, carregado de Soul, Jazz e Blues.
A maioria das músicas possuem uma feição dramática, com letras de amor carregadas de ironia, tristeza e sensualidade numa espécie de bom humor melancólico. O instrumental ao longo do disco é composto por uma grande orquestração com o acento nos metais e nas cordas além de uma ótima base de piano.
Não há nenhuma música de Nina Simone neste disco. Ele é composto por interpretações de Nina em cima de canções populares. europeias e norte-americanas, de compositores como Charles Aznavour, Jacques Brel, e Anthony Newley.
O disco começa com a famosíssima I Put a Spell on You, que dá nome ao disco. É uma música do excêntrico Screamin' Jay Hawkins mas que teve várias versões ao longo dos anos (até mesmo do Marilyn Manson). Não tenho nenhum receio de dizer que a versão de Nina Simone é a melhor versão da música.Originalmente a canção tinha um tom debochado (típico do Scremin' Jay Hawkins) mas Nina Simone, de forma genial, transformou ela numa canção de paixão, com tonalidade sensual bastante acentuada. Ela se tornou uma das suas músicas mais conhecidas e queridas de sua carreira e até virou o título da sua autobiografia anos mais tarde, I Put a Spell on You, escrita em 1992 com Stephen Cleary (clique aqui para comprar a autobiografia).
Tomorrow is My Turn é uma tradução para o inglês de uma música francesa de Charles Aznavour, L'amour C'est Comme Un Jour. Uma bela interpretação de Nina, que se desempenha numa voz suave e meio rouca e uma base de piano sensacional.
Ne me quitte pas é uma canção francófona originalmente composta, escrita e cantada por Jacques Brel (um compositor belga). Segundo Brel essa música não é sobre o amor, mas sobre a covardia dos homens. Talvez a música mais melancólica do disco. Nina Simone pega a cor triste da música e canta em francês a música toda submersa numa base orquestrada de fazer marejar os olhos. Tornou-se uma de suas músicas mais tocadas ao vivo.
Marriage is for Old Folks, uma canção de Leon Carr e Earl Shuman, é uma das músicas mais divertidas do disco. Canta-se aqui, num desempenho fantástico, sobre a decisão de não se casar e se curtir por mais tempo a vida de solteiro.
July Tree, uma composição de Irma Jurist e Eve Merriam, é uma bela canção com uma belíssima letra.
Gimme Some é uma música de Andy Stroud, com um andamento mais dado ao Blues, ou próximo ao Soul típico de Motown (em alguns momentos beira ao Rock'n Roll), com um andamento acelerado, backing-vocals, guitarras e uma fenomenal interpretação de Nina. Uma música com forte apelo sexual.

Breve comentário sobre a personalidade política de Nina Simone:
Muito do que eu li sobre esse disco, especialmente músicas como Gimme Some e Marriage is for Old Folks, foi comentado que ela compõe uma certa expressão libertária da época, embebida (talvez não de forma consciente) de um espírito de Women's Lib. No entanto, é preciso lembrar que as músicas não eram dela e ainda foram compostas por homens.
Nina Simone de fato se movimentou politicamente, mas foi mais uma ativista dos direito civis dos negros nos Estados Unidos do que uma ativista feminista. Ela era admiradora de Martin Luther King (chegou a cantar em seu enterro, no dia 9 de Abril de 1968) embora fosse bem mais radical que ele. Enquanto ele defendia a integração e a paz, Nina defendia, na época, que os negros deveriam entrar numa luta armada (se necessário) e fazer um Estado separado (vale lembrar que a proposta segregacionista e a separação radical entre negros e brancos partia de muitos negros também, fato inegável).  Nina foi influenciada por grupos mais dado ao combate radical devido sua personalidade volátil e explosiva, conforme anota seu biógrafo. De qualquer forma, anos mais tarde, em sua própria biografia, ela deixou claro que via todas as raças de forma igual e não alimentava um ódio contra os brancos.

Continuando, temos Feeling Good. Essa é a minha música favorita do disco. É originalmente uma canção da Broadway, escrita por Anthony Newley e Leslie Bricusse para o musical "The Roar of the Greasepaint - The Smell of the Crowd". A versão original foi cantada pela primeira vez em 1964 por Cy Grant no Reino Unido e por Gilbert Price na Broadway, nos Estados Unidos, em 1965
A versão de Nina Simone começa à capela e desabrocha numa linda textura orquestrada. Se tornou uma das suas versões mais conhecidas e lembradas, tanto que virou um padrão. Entre os artistas que regravaram a versão de Nina estão a banda inglesa Muse, a americana Eels, e os cantores Michael Bublé e George Michael, entre outros.
One September Day, uma canção de Rudy Stevenson, volta ao andamento suave de July Tree. Na sequência temos Blues On Purpose, uma instrumental também composta por Rudy.
Beautiful Land é uma linda música de Leslie Bricusse a Anthony Newley. O andamento suave, a base de cordas, lembrando bastante uma canção de ninar.
You've Got to Learn, uma música de Charles Aznavour e Marcel Stellman, mais uma linda canção do disco.

Observação:
Aqui, receio, os comentários ficarem muito breves, vagos e repetitivos pois o disco inteiro caminha igualmente num padrão de qualidade que, na verdade, dispensaria quaisquer comentários. É sempre uma bela canção, interpretada por uma bela voz, com um belo pano de fundo instrumental. O padrão é esse. Apenas vou insistir em comentar música por música para quem quiser pegar as referências dos compositores originais. Nina Simone é uma artista fantástica, sua voz é maravilhosa, eu não sei por que você ainda está lendo e não foi atrás deste disco (se não o conhece).

O disco termina com Take Care of Business, uma canção mais puxada para o Soul, um pouco mais cadenciada do que Gime Somme. A música é uma composição de Andy Stroud.

Resumindo em uma única frase, I Put Spell on You de Nina Simone é um disco obrigatório!

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